Eu aceito a morte. Também não me importo que foi assim tão de repente, sem avisos, sem sinais, eu jamais estaria preparada mesmo. Foi do seu jeito e você sempre fazia as coisas ao seu modo, então acho justo. Mas, mesmo com toda aceitação a dor é imensa. Perdemos muito, muito mesmo com a sua ida. Não foi apenas a morte de uma pessoa, foi o fim de uma era, de um reinado para nossa família. Pois quando morre uma pessoa que não apenas viveu sua vida, mas criou em sua volta uma grande atmosfera com outras vidas dentro, não é uma morte simples, é uma tempestade, um furacão, que sacode nossas vidas, nos tira do chão e muda nosso futuro.
Difícil acreditar que não terá mais a casa da avó. Difícil acreditar que não entrarei mais naquela casa centenária com ar gelado e um cheiro que sempre indicava que algo muito bom estava sendo feito na cozinha. E, principalmente, difícil acreditar que não te encontrarei mais lá. Difícil acreditar. De repente, literalmente de um dia para o outro, a realidade virou lembrança.
Junto com você foram nossos almoços em família, junto com você foram nossos Natais, os cafés de sábado, cheio de comidas, cheio de pessoas especiais, que você conseguia reunir. Porém ao invés de lamentar vou agradecer. Afinal de contas nem todo mundo tem a sorte de ter uma avó assim. Então, muito obrigada! Muito obrigada por coçar minhas costas até eu dormir e contar histórias quando criança (sempre a mesma, das 3 irmãs), obrigada pelas melhores comidas de avó do mundo, torta de goiabada, pastel de nata, coxinha, rosca, pão, pudim, macarrão, torta de frango, elas fizeram parte da minha infância e me acompanharão para sempre. Obrigada pelas porções individuais de feijão, macarrão feito em casa e torta de frango que você fazia para mim quando eu morava sozinha e nem sabia cozinhar. Obrigada pelos tantos cachecóis que aqueceram minha vida. Obrigada pelos seus brincos de pérola que você me deu para eu usar no meu casamento. Obrigada pelas tantas mantas e gorros que você fez quando fiquei grávida e pelo ”tapa orelha” que nos aqueceu lá no frio da Holanda. Obrigada pelas centenas de coxinhas feitas para os aniversários das crianças. Obrigada por simplesmente existir e ter feito parte da minha vida.
Penso em me despedir dizendo que um pedaço meu vai com você, mas não, é um pedaço seu que fica comigo e sempre ficará.
Já com saudades, Laura
Vera says
Palavras e sentimentos verdadeiros Laurinha!
Claudia says
Laura que lindo!!! Nossa to chorando!!! Meus sinceros sentimentos!! Bjs
Beia says
Muito lindo Laura! Tem muito amor em tudo que vc disse e é o mesmo que eu estou sentindo!
Cely Rodrigues Aliende muzilli says
Que lindas palavras e merecidas! Meus sentimentos a todos da família. Você, Laura, escreve como cozinha: com o coração! Um grande abraço.
Gisele Lourenço says
Um furacão… Uma era que se vai… Eu, não-neta, não-‘sobrinha’ de verdade, mas me sentindo exatamente assim.
Doloridamente agradecida.